Isinbayeva desilude em Berlim
Como de costume, ela preferiu tirar um cochilo, bem ali, diante do público, a saber como andava a competição. Quando despertou no Estádio Olímpico de Berlim, viu Fabiana Murer esbarrar no sarrafo em 4,65m pela terceira vez seguida e se despedir. Só então Yelena Isinbayeva amarrou as sapatilhas. Estava pronta para mais um espetáculo. Desta vez, porém, a história teve um fim inesperado, trágico e doloroso. A russa recordista mundial - 5,05m nas Olimpíadas de Pequim - errou o que nunca erra. Falhou três vezes - uma em 4,75m e duas em 4,80m - e terminou na lanterna. Quem brilhou foi justamente a atleta que, no mês passado, a havia derrotado. A polonesa Anna Rogowska, com 4,75m, é a nova campeã mundial. A polonesa Monika Pyrek e a americana Chelsea Johnson completaram o pódio.
Russa Yelena Isinbayeva lamenta o erro em um de seus saltos na final do Mundial de Berlim
- Não acredito que isso aconteceu comigo. É o destino. Vou me lembrar dessa derrota para sempre - disse a musa, em prantos.
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Bicampeã olímpica e do Mundial, Isinbayeva tinha amargado, em julho, sua primeira derrota em 19 competições. Foi no Grand Prix de Londres. Lá, bem acordada, viu Rogowska saltar mais alto e levar o ouro. No início deste mês, recebeu a notícia de que outra grande adversária, a americana Jenn Stuczynski, desistiria por conta de uma lesão no tendão de Aquiles.
No aquecimento, outra rival saía de cena: a russa Yuliya Golubchikova, com uma contratura na coxa esquerda. Era o primeiro choro entre as finalistas.
Anna Rogowska, porém, estava ali ao lado. Fabiana, amiga de treinos, também. Isinbayeva parecia não se preocupar com as rivais. Na apresentação, beijos para a torcida e para a câmera. Mãos limpas, unhas vermelhas, anéis nos dedos. Até o salto da vitória ia uma longa espera. Resolveu deitar e descansar.
A musa russa não viu o primeiro salto de Fabiana, em 4,40m. A brasileira passou sem encostar no sarrafo. No segundo salto, a 4,55m do chão, o sufoco. A expressão do técnico Elson Miranda mostrava que algo não tinha saído como o planejado. Fabiana foi até lá conversar com ele. Enquanto isso, Isinbayeva ainda dormia, com uma toalha sobre o rosto. Não devia estar sonhando com o que estava por vir.
Fabiana foi para a terceira altura: 4,65m. Fácil para quem, neste ano, já saltou 4,82m. Mas o sarrafo em Berlim pareceu mais alto para a brasileira. Ela o derrubou três vezes. Na terceira e última tentativa, Isinbayeva já tinha despertado. Viu Murer se despedir. Naquele momento, não havia mais esperança de medalha para o Brasil. Quatro atletas já tinham passado da altura.
- Não sei o que deu errado. Não estava sentindo bem o salto, não estava conseguindo pegar o ritmo da vara. Estou triste. Acho que eu poderia ter saltado melhor. O das eliminatórias foi melhor do que hoje. Acho que a vara estava fraca, não sei. Pensei em trocar de vara. O Elson perguntou se eu queria trocar, mas eu não quis - disse Fabiana.
Foi então que Isinbayeva decidiu entrar em ação. O sarrafo estava em 4,75m. Não consegui ultrapassá-lo. Logo depois, Rogowska também falhou, nos 4,80m. Isinbayeva foi para os 4,80m. Errou mais uma vez. Caminhou até seu treinador. Balançava a cabeça com sinal de negativo. Foi até seu material, escondeu-se debaixo de uma manta e ficou ali, concentrada.
Saiu de lá, arrumou os cabelos, conversou como nunca com a vara. E foi para o tudo ou nada. Falhou, pela terceira vez. Como não tinha saltado nas alturas mais baixas, zerou a prova. Última colocação. Ela, que no ano passado se desmanchou em lágrimas ao conquistar o ouro olímpico, voltava a chorar.
Para o australiano Steven Hooker, campeão olímpico do salto com vara, Isinbayeva se acomodou por não ter rivais. Segundo ele, a musa russa poderia estar saltando 20cm a mais de sua marca atual. A bela mostrou que prefere ir aos poucos. De vitória em vitória. Ou de derrota em derrota.
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